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A mudez sobre o flagelo da seca

  • Notícias

Por: Marcos Carnaúba

ENGENHEIRO CIVIL E CONSULTOR

 

Durante longa convivência com o semiárido, iniciada quando o meu pai adquiriu terras por lá em 1953, tenho me manifestado sobre as dificuldades regionais. Embora sem muito eco, fruto do descaso, ao longo do tempo, dos que têm poder decisório, do individualismo de tantos, do analfabetismo persistente e do clientelismo.

Volto ao assunto assustado com o caos já instalado sob o silêncio de tantos, da ignorância de alagoanos que desconhecem o Estado, metade da sua área é semiárida, e acham que pior está no Ceará que usa a mídia mostrando suas dificuldades, as mesmas de Alagoas, aqui potencializadas pelo descaso.

O Sertão de Alagoas está sem água. E aqui vai um pouco de hidrogeologia, porque a água residual, nos raros açudes, contém excesso de sais, não é potável e contêm magnésio, o que a torna imprópria para o consumo animal. A perfuração de poços é viável até a profundidade de 70 metros em escassas fendas geológicas dispersas que armazenam, também, águas salobras carentes de dessalinizadores ora bancados por programas federais. Fora dessas áreas os solos são rasos sobre um escudo de rocha maciça que se aprofunda por alguns quilômetros.

A economia gira em torno da pecuária e de lavouras de subsistência. No ano de 2013, o governo federal subsidiou a venda de milho, via Conab, por cerca de dezoito reais o saco; hoje custa trinta e oito. Um quilo de milho por dia mantém uma vaca viva se tiver água que escasseia a cada dia; naquela época o litro de leite era pago ao produtor a um real e vinte centavos, mas está a oitenta centavos desde janeiro de 2014.

Já estamos no limiar do quinto ano de seca severa, as águas secaram, as cisternas de programas sociais não encheram, o gado – esteio da economia regional – definha, morre ou é vendido a preços irrisórios.

Decretos de Situação de Emergência têm níveis de desastre que variam de um a quatro, esse último de muito grande porte quando a situação de municípios não pode ser reordenada sem o auxílio de governos e órgãos externos, e é representado pelo estado de calamidade pública.

Temo retroagirmos ao século 19 quando campos de concentração foram criados para retirantes de secas. Crescem as tensões sociais, e já já teremos saques e invasões.

Decrete-se, pois, Estado de Calamidade Pública nos municípios afetados, norteados para fornecer água à população, água e alimento para o gado, antes que outros estados trilhem o caminho e não sobrem recursos para Alagoas – o que sempre ocorreu.

Deve ter algum prefeito atrevido no Sertão. Veremos!