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Geóloga explica diferenças entre cânions de MG e AL e alerta para necessidade de prevenção

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Por Vanessa Alencar/Site Cada Minuto

A tragédia decorrente do desabamento de um paredão rochoso em um cânion no Lago de Furnas, na cidade de Capitólio (MG), deixando dez pessoas mortas e várias feridas no sábado (8), levantou questionamentos sobre a possibilidade de acidentes similares em outras regiões do país, inclusive em Alagoas, onde está localizada parte dos Cânions do Rio São Francisco.

Em entrevista ao CadaMinuto, a geóloga Rochana de Andrade Lima, professora do Curso de Engenharia Civil e Engenharia Ambiental e Sanitária da Universidade Federal de Alagoas (CTEC-Ufal), explicou que as características das rochas encontradas no Lago de Furnas são diferentes das formações rochosas que compõem os Cânions do São Francisco, o que não quer dizer que não possa ocorrer um desplacamento de blocos também em Alagoas.

Rochana de Andrade Lima / Foto: Adailson Calheiros/Tribuna Independente

“Lá em Capitólio tem rochas quartzíticas, que são rochas metamórficas, com fraturas verticais, mas também quebramentos horizontais, o que diminui o grau de resistência da rocha, além da água entrando naquelas fraturas. Em Minas, foi principalmente a água da chuva acumulada que levou o desplacamento daquele bloco rochoso. Em Alagoas, os cânions do São Francisco são arenitos principalmente, rochas cristalinas. O intemperismo, o desgaste da rocha são diferentes”, detalhou.

Frisando que tais diferenças não são garantia total de segurança, Rochana alertou para a necessidade de adotar medidas preventivas: “O ideal é que as pessoas e embarcações não fiquem muito próximas dos paredões e quem visita essa região dos cânions por cima, como faço com meus alunos, não deve se aproximar muito das beiradas. É uma precaução que se deve ter”.

Rochana destacou que não há, no país, um monitoramento geológico geral, principalmente direcionado ao geoturismo, sendo o monitoramento existente mais focado em áreas de risco. Ela avaliou que, a partir da tragédia ocorrida em Minas, deve haver um olhar diferenciado sobre essas áreas de geoturismo.

“É necessário um olhar geológico, com levantamentos do Serviço Geológico do Brasil (CPRM), que faz muito bem isso, mas com foco principal nas áreas urbanas e não com o olhar do geoturismo, que vem se desenvolvendo muito no país. Quem trabalha com essa parte econômica do geoturismo também ainda não tem essa visão de que deve existir a junção da geologia com o turismo.”, pontuou a geóloga.

Rochana contou que participou do mapeamento geológico realizado pela CPRM, em 2013 e 2014, junto com a Universidade Federal de Pernambuco e a Ufal, na área dos Cânions, para o Monumento Natural do Rio São Francisco, mas os relatórios produzidos não enfocam as fraturas presentes na região.

Neste ponto, ela chamou a atenção para o fato de que, além dos paredões rochosos, a ocupação de espaços em áreas da zona costeira, como São dos Miguel dos Milagres e Maragogi, também tem que ser trabalhada junto com o turismo e junto com o setor econômico do estado.

“Ainda não há esse link, essa ligação entre a parte econômica, turística com a parte da geologia. O que seria interessantíssimo. Por quê? Porque um daria um embasamento para o outro. Acho que esse link devia ser cada vez mais usado, de agora em diante.”, concluiu.

CPRM

Em nota enviada à imprensa, o CPRM informou que tem acompanhado o evento geológico registrado no município de Capitólio e, “conforme avaliação preliminar dos pesquisadores em geociências, a presença de rochas de fácil desagregação, a grande intensidade de fraturas, a percolação de água por fendas e o volume de chuvas excepcionais foram elementos potenciais para a deflagração do processo”.

“O fenômeno ocorrido em Capitólio é comum e pode se repetir em outros trechos da paisagem. Até o presente momento, o Serviço Geológico do Brasil não recebeu nenhuma solicitação para realizar o mapeamento de áreas de risco geológico na região. Todavia, cabe ressaltar que, conforme a Lei 12.608/2012 – que Institui a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil, os mapeamentos de áreas de risco geológico contemplam, exclusivamente, regiões nas quais há imóveis voltados à ocupação humana, como casas, prédios, hospitais, escolas, estabelecimentos comerciais, dentre outros.”, destaca a nota.