O presidente do Crea Alagoas, Fernando Dacal, esteve na tarde desta quarta-feira, dia 27, no Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas (IHGAL), participando de uma importante discussão técnica, referente a imagem turística de Maceió: a poluição Riacho Salgadinho e da Praia da Avenida da Paz. O professor do Instituto Federal de Alagoas, engenheiro civil Ehrlich Falcão, realizou uma palestra narrando a história de como era o riacho do Salgadinho, a partir dos anos 40, e apresentou sugestões para a despoluição da Praia da Avenida a começar por um trabalho de desocupação urbana das margens do Vale do Reginaldo.
Segundo o professor, o riacho Salgadinho corria paralelo à Praia da Avenida, na direção da Praça da Faculdade e desembocava na Praia do Sobral. A sinuosidade do riacho, a qual obedecia à engenharia da natureza, diminuía a velocidade da água durante a época de precipitações pluviométricas volumosas. “O antigo traçado foi retificado com técnicas de correção do curso d’água para que ele chegasse à Praia da Avenida e, em 1948, o riacho foi canalizado e retificado tomando nova configuração”, explicou. E o motivo alegado para se fazer o aterro foi a onda de mosquitos e problemas das enchentes. “O que houve foi um jogo de esperteza para urbanizar a área onde passava o riacho”, alegou.
Mas a consequência da canalização do Salgadinho, por ter seu trecho suprimido, não demorou a aparecer quando em maio de 1949 choveu três dias em Maceió e o canal não suportou o aumento da velocidade do volume d’água, transbordou e causou estragos em ruas e pontes chegando até a arrancar os trilhos do bonde que era o meio de transporte comum naquela época. “Se ele tivesse permanecido com todo o seu trecho sinuoso até à Praia do Sobral não haveria o transbordamento”, observou Falcão.
Na visão do engenheiro, a canalização é uma máscara para os problemas urbanos. “O esgoto é que deve ser canalizado. Mas os grandes canais de cursos d’água da cidade, estes, devem ser preservados’’, disse. Para o professor, canais artificiais não drenam um volume maior e também não cumprem o papel das vias de escoamento natural. “A primeira falha que se cometeu com o Salgadinho foi canalizá-lo, e as faixas de inundação nunca deveriam ser ocupadas. Se elas fossem respeitadas não haveria enchentes”, criticou.
O presidente do Crea, Fernando Dacal, deixou o registro de que a despoluição depende também do processo educacional e que todo o problema envolve não somente o executivo como o judiciário, principalmente quando se trata de invasões. Ele também lamentou a lentidão da justiça nas decisões de embargos e disse que abria o Crea-AL para as discussões de todos os projetos sociais que estivessem diretamente ligados ao bem da sociedade.
BACIA HIDROGRÁFICA – Falar da despoluição da praia e do riacho Salgadinho tem tudo a ver com a bacia hidrográfica do Vale do Reginaldo. Segundo o professor, é a bacia com a maior complexidade de poluição, situada na zona urbana de Maceió. O vale inicia-se nas imediações do aeroclube com 25,6 km de área e 13 km de extensão delimitado pela Avenida Fernandes Lima, a Durval de Góis Monteiro e a Via Expressa, onde toda a água drenada passa pelo Riacho Reginaldo, Salgadinho, Pau D’arco, Riacho do Sapo, Gulandim, e deságua na Praia da Avenida da Paz. Disse Falcão que cerca de 30% da população de Maceió ocupa irregularmente essa bacia. E lamentou que algumas pistas estejam funcionando como canais de drenagem. A Avenida Pierre Chalita, segundo o professor, deu exemplo da fragilidade de escoamento quando ocorreu o deslizamento de barreiras bloqueando pistas.
OCUPAÇÃO DO VALE – Começou o erro em 1924. Ehrlich mostrou uma foto quando o riacho do Reginaldo passou a ser ocupado com casas de taipa. De lá pra cá a ocupação ocorreu de forma desordenada e está povoado inclusive com obras do PAC. Na enchente de 2010 o vale transbordou e invadiu todo o entorno da faixa de limitação. “Foram essas ocupações que transformaram o Riacho do Salgadinho em coletor de lixo”, acrescentou.
E qual seria a sugestão para revitalizar e despoluir os riachos? Disse o professor que quando esteve em Curitiba, na década de 80, viu um trabalho realizado no fundo de um riacho que parou de causar inundação. Reorganizaram as margens do fundo do vale com vegetação rasteira, fazendo-se pequenos aterros nas margens para que a água pudesse circular em zigue-zague e diminuir a velocidade quando ocorressem enchentes. No Vale do Reginaldo poderia ser implantado o mesmo processo desde que houvesse a desocupação urbana das suas margens.