Feliz o cidadão que conseguiu gozar das belezas e atrações da época em que a famosa Avenida da Paz, construída no bairro de Jaraguá no início da década 20 logo após o fim da primeira guerra mundial, ofertava a todos que ali passava momentos de puro lazer. Por quase meio século, a região da cidade de Maceió foi o nosso cartão postal, que traz a única praia localizada na região central de uma capital brasileira.
Sua notável e curvada extensão de areia cor de neve, incansavelmente banhada pelas águas límpidas do mar – coloridas com tons azuis e verdes – foi por muitos anos berço da juventude da época. Só que a falta de políticas para a reforma agrária desencadeou, por volta dos anos 60 e 70, uma grande invasão de trabalhadores rurais na capital em busca de oportunidades de emprego e dias melhores.
Sem estrutura para receber tanta gente de uma só vez, Maceió inchou e as consequências foram surgindo após milhares de ocupações indevidas. O famoso Riacho Salgadinho, foi o mais afetado, sangrou e virou esgoto a céu aberto, despejando dejetos fecais e lixo, sem o menor respeito, diretamente na praia mais bela do Brasil.
Exatamente para tentar resgatar este passado em Maceió e combater a negligência de gestões antecessoras, o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Alagoas (Crea-AL), vai iniciar a campanha “Salve a Praia da Avenida!”. (INSCREVA-SE AQUI)
A intenção da entidade é discutir, no dia 20 de julho, às 18h, na terceira edição do Papo no Mirante, por meio de debate técnico com o apoio da sociedade, saídas para despoluir o Riacho Salgadinho e, consequentemente, revitalizar a praia e todo o bairro de Jaraguá.
O engenheiro civil e diretor da Companhia de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Irrigação (Cohidro), Wellington Coimbra Lou, vai abordar o tema “Estação de tempo seco: Solução para os esgotos do Riacho Salgadinho”. Com ele, acrescentando conteúdo, o engenheiro Carlito Lima, idealizador da Amapaz, também vai participar do evento, que será conduzido pelo jornalista Marcelo Firmino.
Lou garantiu a possibilidade de despoluir o canal que há anos vem sofrendo com o descaso da administração pública. “As pessoas querem uma solução para o lixo não ser mais lançado ao mar. A engenharia pode sim resolver o problema. Irei apresentar um projeto que traz uma série de ações como recomposição de taludes do canal, barreiras flexíveis, drenagens, instalação de comportas e outras”, destacou.
O desejo de trazer o passado para o presente é grande. Por isso, a engenharia alagoana, representada pelo Crea Alagoas, se mobiliza. De acordo com o presidente do Conselho, Fernando Dacal, é também uma forma de revitalizar a vida do tradicional bairro de Jaraguá.
“Quem viveu ali sabe o quanto era prazeroso. Todos os alagoanos tinham o local como lazer. Nosso desejo é suscitar o debate e chamar a atenção dos nossos governantes. Estamos mobilizados para trazer a praia da avenida da paz de volta. Por isso a participação de toda comunidade é importante, como também os representantes do Estado e da Prefeitura”.
Incansáveis na luta
O crime ambiental trouxe desprezo e esquecimento das novas gerações. Na década de 90, a Associação dos Amigos da Avenida da Paz (Amapaz), liderada por Carlito Lima e Marta Bernardes, tentaram chamar a atenção das lideranças políticas em busca da revitalização da praia. “Abraçamos, com mais de quatro mil pessoas, a foz do Riacho Salgadinho. Foi uma bela manifestação popular. Melhoria aconteceram, longe do necessário”, disse Carlito Lima.
“Quando menino, aprendi a andar nas areias duras da praia da Avenida, a nadar naquele mar brando de cores indefinidas. Essa região faz parte da minha vida. Meu sonho vai continuar sendo a recuperação da praia tem tudo para ser uma referência de beleza para o Brasil. Estou há mais de 20 anos lutando por isso. Mas precisamos primeiro resolver o problema do Salgadinho, canal de acesso dos despejos da população. Atualmente, a região do Vale do Reginaldo é a que mais castiga o nosso Riacho ”, acrescentou.
No livro “Meninos da Avenida 2 – Histórias que contam”, lançado em 2016 por Americo José Peixoto, mais conhecido como Lelé, o advogado Murillo Mendes, destacou o sentimento de muitos usufruíam dos anos de ouro da Avenida de Paz.
“Lembro-me, com naturalidade, como algo do meu passado, que não se foi, que me integra, que é parte viva e indissociável do meu eu, do tempo em que desfrutávamos a bela e inigualável praia. Do branco neve de suas refinadas areias, da limpidez de suas águas mornas – espelho autentico do céu imenso que as cobria, colorindo-as em tons ora azuis, oras verdes, sempre puras, exuberantes e saudáveis, oferecidas a todos nós que as procurávamos”, destacou.